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terça-feira, 20 de julho de 2010

A gente se comove

Por que a gente se comove com coisas tão aleatórias?

Imaginem que eu estava voltando pra casa de noite, na Paulista, quando me deparo com um pai jovem, acompanhado de seus filhos. Ele vendia doces caseiros, portava à tiracolo uma bandeja onde apoiava sua mercadoria e com os braços acolhia as duas crianças em seus flancos. O menino abraçava a menina, a menina agradava o pai, e ele equilibrava os quitutes e os carinhos com maestria. Ele me abordou oferecendo os tais doces: três pares de olhos esperavam minha resposta, que foi um corriqueiro não, obrigado. Apenas mais um caso de vendedores ambulantes nesta malfadada cidade, dirá a maioria. Outros, mais sociológicos, dirão que esse é um dos frutos das injusta distribuição e da opressão que os ricos exercem sobre os pobres. Dessa forma, discute-se se os ambulantes devem ou não ser considerados novos hereges ou se devem ter carteira assinada, se podem ser enxotados de volta às suas miseráveis terras ou se poderão tentar conseguir um pouquinho de riqueza nesta capital.

O fato é que o homem e as crianças sorriam. Alheios à insensibilidade e ao desprezo de todos, os três estavam unidos numa mesma digna missão de ganhar o pão para o dia seguinte. Os filhos eram capitaneados pelo pai, que ainda não perdeu seu sotaque natal e que andava aquela via enorme de ponta a ponta, oferecendo a bocas desconhecidas aquilo que suas mãos a ele tão familiares produziram em alguma cozinha distante. Não roubavam, não malediziam a outrem nem choravam suas penas ou festejavam suas glórias: estavam felizes em vender aquilo que vendiam, em nisso reside uma sabedoria dificilmente alcançada.Sorriam, e eu andava tão carrancudo.Aquela era uma família unida que estava hoje à noite pela Avenida, e talvez fosse a única.

3 comentários:

  1. Bela e comovente observação do cotidiano da cidade que não para. Consegui visualizar e, confesso,me emocionei também.
    Bjs

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  2. ontem, na recepcao desses laboratórios de exames médicos(intitulados medicina diagnóstica, mas..hum, me soa estranho) eu vi uma mulher grávida. um olhar triste, que logo se transformou em diversas lágrimas. ela estava acompanhada de sua filha, que recostou a cabeça na barriga dela. essa cena me comoveu, vai entender porque essa... porque a gente se depara com muita gente e muita coisa todo dia, mas as vezes algo... nos pega.
    depois eu fui é pegada pela raiva, porque o homem que a acompanhava ria, quase que zombateiramente, ao seu lado. (sim, eu nao sei da vida deles, nem o porquê de nada,mas foi um sentimento imediato)

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  3. Meus deus !! Agente tem blog de nome igual !!!
    rs
    parabéns, você escreve muito bem , conduz de forma digna o espetáculo:)
    beijão

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