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quarta-feira, 7 de julho de 2010

De 1922 a 2010



É hora de escrever sobre ele.

Muito já foi escrito, homenageado, resenhado e criticado nos últimos dias, não me resta mais do que minha humilde e suja contribuição pessoal a dar por aqui. Posso, também, ser sinceríssimo e dizer que quando li a notícia de sua morte, numa manhã interiorana e escaldante, em que pese a chegada do inverno, meus olhos ficaram levemente umedecidos, e a lágrima só não rolou cara abaixo porque fui sóbrio e prudente, levei um dedo à face e tratei de recompor-me. Estava numa biblioteca - um gosto pelas bibliotecas acompanha-me desde sempre, e ao próprio Saramago sei que elas lhe apeteciam bastante também -, tinha entrado na internet para ver meus tão mal escritos e desimportantes e-mails, e caiu-me uma bomba dessas de supetão na cabeça. Sabia que ele estava mal, sabia que quase morrera por causa disso ou daquilo, mas mesmo a um passo da cova (aonde não chegou, posto que está cremado) escrevera dois livros (A viagem do elefante e Caim) e tinha outro em elaboração. Sabia, também, que ele logo mais morreria, mas mesmo assim fiquei triste pela desagradável surpresa.

O dia, entretanto, chamava-me a inúmeras mundanidades, não se esqueçam de que era cedíssimo na manhã do Brasil. Segui as notícias póstumas com pesar, mas não deixei de estudar Fisiologia (num livro tão mal escrito e inconstante, o contrário daquilo que lemos no Ano da Morte de Ricardo Reis). Sei que tais não são as mais belas palavras para se homenagear um ídolo morto, mas ele mesmo me ensinou a não dar tanta importância ao fato de alguém ter morrido, mas, no lugar disso, a ter noção do peso que ela imprime aos pratos da balança da vida de todos nós.

Que mais há de falar? Conhecia-o bem (do meu jeito, mas bem). Li vários de seus livros como quem devora um banquete, eu sou assim quando encontro a literatura que me interessa. Conhecia-o melhor do que conheço muita gente com quem forçadamente convivo todos os dias. Mas o conhecê-lo bem não é realmente saber quem ele foi, e isso não significa que eu queira lá saber exatamente quem aquele homem foi. Porque para mim e para quase todas as pessoas, pouco me importa se ele era ranzinza ou uma flor, cheiroso ou operário, o importante é saber que ele era ateu e comunista, provocador e um ótimo escritor da nossa língua.



José Saramago morreu, ontem ele cá estava, hoje não está mais. A copa do mundo não parou por isso, o mundo continuou a "a fazer aquilo que ele melhor saber fazer: dar voltas" e seus livros ainda são vendidos em todas as livrarias deste planeta imbecil.

No fundo, não mudou muita coisa.

Obrigado, José Saramago.

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