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domingo, 17 de julho de 2011

Dos objetivos do milênio

Às vezes eu esqueço por que faço medicina. Que bom que o ócio de Julho, a Internet e outras coisas mais me fazem lembrar de muita coisa. Reli sobre os Objetivos do Milênio, e desse assunto ressurgiu o verdadeiro motivo da minha motivação para meu curso. Me perguntei: dos oito objetivos do milênio, quantos dizem respeito à saúde? O resultado foi mais do que um post. Foi um clareamento da mente, muito salutar nesses tempos de limbo.

Se considerarmos saúde num sentido estrito e meramente médico, três dos oitos objetivos são temas relativos à saúde pública: saúde infantil, saúde materna e combate ao HIV/AIDS. Se, no entanto, nos atentarmos para o conceito de saúde como área do conhecimento que ultrapassa os muros do tecnicismo, somos obrigados a reconhecer que todos os objetivos do milênio enunciam, de alguma forma, temas que estão no centro daquilo que é chamado de saúde global.

Fim da miséria e da fome, educação universal, igualdade de gêneros, sustentabilidade ambiental e a construção de uma parceria global são bandeiras calcadas nos solos da saúde pública, da democracia, da justiça. Tais terrenos, apesar de diferentes, são feitos da mesma terra, e é impossível tentar cuidar de um sem cuidar de outro, sob a pena de ver todas aquelas bandeiras perderem seu sustento.

Dessa forma, pensar em objetivos do milênio significa pensar na saúde pública que pretendemos construir. E, conjuntamente, como queremos moldar a sociedade deste nascente século XXI. Por mais difuso que pareçam, os oito objetivos do milênio constituem uma forma suficientemente abrangente de abordar problemas sociais (sanitários, educacionais, jurídicos, ambientais) cujas raízes profundas impedem uma poda eficaz, mas cuja natureza pode ser revertida.

Acima de tudo, me anima ver como a medicina é um veículo de mudança presente nos objetivos do milênio. É empolgante saber que sua profissão tem tamanho poder, e que suas possibilidades e responsabilidades são cada vez mais importantes, necessárias e visadas. Ser médico, numa situação de calamidade global como a que vivemos, é ser capaz de agira em diversos níveis, diversas frentes, desde o contato direto com a criança faminta, até o processo político de fazer com que sua família tenha condições de comprar-lhe o alimento.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

As teorias...

Momento de introspecção: nessas horas eu sempre me volto aos livros. Eles são momentos fundadores da (minha) educação, de volta ao tempo em que eu, da forma mais efêmera possível, vivi no meio das ciências humanas. Às vezes, sinto vontade de me voltar um pouco mais para essa área, que, ao meu ver, se completa tanto com a medicina.Naquela época, eu fingia ser um weberiano que xingava alguns marxistas. Tudo pose, claro, já que nem outrora, nem hoje em dia, sou um conhecedor disso tudo.

Foi isso que eu escolhi: larguei uma formação superficial, em termos teóricos, por outra um pouco mais profunda, mas mesmo assim tão prática que me prende a certos conhecimentos que, não necessariamente, me agradam. Claro que estou gostando, ninguém aguenta a faculdade de medicina sem gostar do que faz. Mas é que cansa, endurece o pensamento, um senso prático (fundamental, eu sei, eu sei...) que impregna tudo o que fazemos. Por exemplo, consegui incutir em mim mesmo um senso comum que me faz me sentir um estranho ao tentar, nessas férias, recuperar um pouco da teoria - livros, livros - que seguem caminhos recusado por mim, há alguns anos.

Não é uma acrasia. Não envolve meus valores profundos, nem é um desafio à minha liberdade. É apenas uma manifestação daquilo que sempre faço, e que tanto tempo me consome, cá com meus botões: constantemente passo em revista tudo aquilo que sonho, desdenho, já fiz e estou fazendo. Só espero que com isso eu não viva na inação.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Algo de novo no velho front

Uma nova semana em São Paulo. Teatro Municipal, comida indiana, metrô novo, certas tristezas, outras alegrias. Me lembro daquele poema do Drummond que diz que o amor é uma coisa que hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será. Velhos amigos, novos amigos, a vida que segue, meio mudada, meio igual. Eu que, ao mesmo tempo o de sempre e algo diferente, tenho antigas e recentes conversas, companhias, experiências, lugares à minha volta.

Como sempre, fui ao cinema, ao teatro, aos cafés, às mesmas ruas por onde flano desde pequeno. O "como sempre" esconde muita coisa: é verdade que a ação externa é a mesma, é verdade que mesmo os novos amigos se parecem com os de antes. Mas a cidade, as pessoas e o mundo todo muda, e o eu que hoje passeia nessas férias vê o mundo com outros olhos, com outra mente e com uma calvície que segue a despeito da Finasterida (os sonhos, esses sim antigos companheiros, mudaram pouco, muito pouco).

E é como se a distância, a medicina e os livros, sempre os livros, pusessem tudo em uma perspectiva alternativa: o tempo, que antes era infinito; o futuro e a profissão, que eram entidades etéreas; eu, que me conhecia tão pouco, apesar de achar que me conhecia tão bem. O relativista franzirá as sobrancelhas: você que mudou, não o seu conhecimento sobre você que se alterou. Não seja ingênuo, relativista... Aquele que mudou continua sendo eu mesmo, e, conhecendo-me melhor, modifico-me mais ainda. A vida não se repete, apesar de, às vezes, andar em círculos.

Sou uma pessoa livre, a priori, pelo menos é o que me dizem (não um amigo, mas um filósofo no papel). Que estranho ser assim: o tempo corre mais rápido do que minhas pernas, sou livre mas nem sei o que é isso e no meu nariz ainda persiste o cheiro de quem foi embora.