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domingo, 21 de março de 2010

A tal da saúde mental

Mais uma vez a questão da saúde mental. Agora volto a ela graças a duas notícias vindas pela internet. Uma delas, do Chile, relata a chegada de equipes de psicólogos e psiquiatras dos Médicos sem Fronteiras a regiões afetadas pelo recente terremoto. No pós-crise humanitária, quando as pessoas já pararam de morrer às centenas, sobra sempre muita gente sem abrigo, assustada, doente. Esse caos é o lodaçal perfeito para o desenvolvimento de inúmeros problemas psicológicos/psiquiátricos nos sobreviventes, o que vai desde crises pânico até alguns sinais mais catatônicos. Além disso, as pessoas, que não tem como saber que rumo dar às suas vidas, precisam do apoio de profissionais preparados para ajudar-lhes a superar a adversidade.

A outra notícia está bem perto de nós: no Pinel, em São Paulo, uma menina está esquecida pela família há quatro anos. Essa história poderia dar um belo dramalhão, e foi o que a jornalista da Folha fez com o caso (leia aqui). À parte da dramatização mal feita, tem-se aí um exemplo de como a estrutura em saúde mental no Brasil é precária e ineficiente. Na capital, os hospitais estão lotados, os CAPS são poucos e o número de pessoas que procuram ajuda psiquiátrica só aumenta. No interior, a falta de profissionais é crônica e o serviço é desestruturado (na região de São José do Rio Preto - mais de cem cidades em torno - só existe um PS com alguns leitos psiquiátricos, e só um psiquiatra). No resto do país, a saúde mental apresenta o mesmo terrível descaso.

Dessa situação, algumas lições. A mais importante para mim é a de que a medicina muda a vida das pessoas, em todos os lugares e em todas as situações. Além disso, percebo com isso que não existe saúde sem saúde mental (não acho que chavões devam ser evitados se eles forem corretos). E, por fim, passo a passo, vou definindo o que farei com a minha profissão. Será que o futuro me reserva uma vida internacionalista?

sábado, 13 de março de 2010

No pronto socorro

Assim que cheguei no pronto socorro central, fui conduzido por um funcionário até a ala psiquiátrica, no fim do corredor. Como sempre acontece com a estrutura de saúde mental, existe um certo distanciamento entre a área de trabalho dos outros médicos e a parte destinada aos psiquiatras. Assim, para chegar àquele fim de corredor, tive que passar por diversas outras portas com muitos doentes (está tendo uma epidemia de dengue na cidade) e sem nenhum ar condicionado.

A psiquiatra de plantão mostrou-me os doentes: esquizofrenia catatônica, abuso de substâncias, etilismo, transtorno bipolar, depressão, ansiedade, CID, DSM-IV-TR. As macas balançavam com o tremor da abstinência de álcool, e a mãe do viciado em drogas tinha medo de voltar para casa com o filho, que apanhou da polícia. Uma mulher não conseguia parar de chorar, não tinha paciencia para aturar a vida familiar, mas implorava por uma dispensa do trabalho.

A conduta psiquiátrica é muito racional, mas resolve muito pouco. Quê fazer com um alcólatra que, depois de ameaçar matar o pai, chega ao pronto-socorro querendo parar de beber? Passa-se um remédio para controlar os impulsos agressivos e sugere-se a triagem numa comunidade terapêutica. Feito isso, ele volta para casa. A internação psiquiátrica não funcionaria porque, para etilistas, ela é curta e só serve para que eles suportem os primeiros dias de abstinência. Além disso, todos os hospitais psiquiátricos estão lotados, e a preferência é para quem tem transtornos mentais mais graves.

A emergência psiquiátrica, então, tem um papel ao mesmo tempo emergencial e protelatório. Doentes mentais não se curam em alguns minutos e de acordo com protocolos, como acontece nas outras áreas da medicina. Quem precisa de um psiquiatra no pronto-socorro não receberá a cura, mas será estabilizado - para utilizar um termo médico consagrado - e voltará para casa com um remedinho e com uma guia para procurar um outro psiquiatra no ambulatório, que o acompanhará por mais tempo.

Mas e quem precisa ser internado, quem não pode voltar para a rua? Esses, como a senhora esquizofrênica, ficam na maca, tomando soro e sendo observados pelos psiquiatras e enfermeiros, à espera de uma vaga em um hospital psiquiátrico. Um dia, ela vai conseguir a chance de ser transferida, mas o modo como ela será tratada, e as chances de cura no leito de internação é outro assunto, que fica para outro dia...

terça-feira, 9 de março de 2010

Os olhos que o diabo lhe deu

O maravilhoso mundo dos blogs traz muitas surpresas. A de hoje é um texto de um ótimo escritor brasileiro, Daniel Piza, em sua página: Machado, não Casmurro (2) | Daniel Piza .

Ele traça, nesse post, um panorama geral de um dos maiores livros da literatura, onde aparece o tal tenor italiano, que, depois de muito Chianti, sempre repetia que a vida é uma ópera. Trata-se de um excerto de um livro maior, sobre Machado, que Piza publicou em seu site. Para um post, é longo; para um trecho de uma obra, é curto. De toda forma, é leitura importante para quem é leigo como eu, ou que acha que tudo se trata de uma mera questão de adultério.

Machado é o homem das metáforas, e era homem que se deliciava com o fascínio causado pelos olhares das pessoas - de preferências os bonitos. Eu admito que também sou assim, e tenho a caracterização de Capitu principalmente pelos olhos como uma das maiores descobertas (para mim, quando li) que conheço. Todos sabem aquela história dos "olhos de ressaca". Mas nem todos imaginam que quem deu aqueles olhos à Capitu foi o próprio diabo.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia internacional da mulher


Nesse dia internacional da mulher, o comitê local da IFMSA na minha faculdade promoveu uma campanha muito simples de conscientização de um dos maiores perigos para a saúde feminina: o câncer de mama. Aproveitamos a data para distribuir panfletos didáticos e explicar às mulheres que abordamos nas ruas perto do Hospital sobre o auto-exame (bem detalhado no papel que entregamos a elas). Foi uma intervenção rápida e eficaz, que cumpriu seu papel como extensão universitária e pôs em prática o objetivo da instituição do 8 de Março como dia internacional da mulher, que faz cem anos hoje.

Para mim, a existência de datas comemorativas como essas têm uma função prática muito grande, ao contrário do que muitos vociferam. São dias escolhidos por algum motivo histórico, cujo nome está sempre ligado a alguma luta social ou a algum problema globalmente relevante. Assim, promovem-se, em grande escala, atividades que visam a pôr em pauta tais assuntos, como o que fizemos hoje à tarde e como muitas outras pessoas realizaram no mundo todo. O dia internacional da mulher, tem, portanto, o mérito de ter colocado em evidência, mesmo que só hoje, a questão da desigualdade de gênero, da atenção à saúde feminina, do machismo, da submissão das mulheres.

O que mais se ouve é: "o dia 9 de Março não será mais o dia internacional da mulher e todos esses pontos levantados por você serão esquecidos, e só voltarão a ser comentados no ano que vem". Não concordo com isso. Amanhã, quem estuda as questões de gênero, quem sofre com o machismo e quem luta contra a alienação da mulher continuará lembrando todas essas questões.

Por fim, um beijo a todas minhas amigas, minhas irmãs, à minha mãe e à minha avó!

Queria por aqui aquela música do John Lennon, Woman is the nigger of the world, mas ficaria brega...

Bluebirds in the spring

Este blog anda a passos curtos. Tantas coisas acontecendo por aí e eu sem tempo (tempo?) de refletir e escrever. Filmes, vejo-os pouco - em comparação à quantidade e qualidade dos que eu via antigamente. Os livros também saíram do topo das minhas prioridades em 2009. No lugar deles, a faculdade, suas decorebas e suas descobertas ocuparam meu tempo. É verdade que vi ótimos filmes e li ótimos livros nesse ano que passou - se não fosse assim não seria eu! - mas é clara a diferença de impacto que isso tudo teve na minha vida esse ano! OK, fiquei tocado com a beleza e a fatalidade do Último dos loucos e me surpreendi com os relatos perfeitamente escritos da Guerra do fim do mundo (Vargas Llosa), mas no meio do turbilhão de novidades, mudanças e pessoas que chacoalharam a minha vida, qual a real importância dessas experiências culturais para mim? Acho que, pela primeira vez na vida, esses momentos de leitura ou de "consumo" de cultura serviram mais como pausas de introspecção mais do que alimentos à minha capacidade crítica.

A escrita também diminuiu para mim. E com isso, a prática e a facilidade de eu me expressar diminuíram. Sinal dos tempos, comecei no Twitter, onde com 140 caracteres eu tenho que me virar e, o pior de tudo, acostumei-me a ele! Meus seguidores são muitos, sigo mais pessoas ainda, mas quantas me lêem, quantas eu leio e quanto do que falo é bom, merece ser lido? Devagar, estamos voltando ao grunhido, já disse o velho sábio das Ilhas Canárias. E ele toda razão.

Ao mesmo tempo, que mundo novo se abriu para mim! Quantas possibilidades! O tal "o que fazer quando crescer" bate na porta toda dia, e as opções são muitas. Não estou sozinho nessa angústia: minha geração é tão mal preparada para enfrentar as escolhas e suportar perdas e decisões como qualquer outra geração, em que pesem todas as tecnologias a que temos acesso. No fundo, temos todos o mesmo medo de fazer a coisa errada, e muitos de nós não temos coragem de experimentar. Eu já troquei de faculdade (e de sonhos, e de realidades) mais de uma vez e isso não me imunizina contra novas frustrações.

Para abrir o ano no blog, uma música antiquíssima, mas que fala por mim nesse novo 2010 e que explica o título do post: I wish you love, cantada por Rachel Yamagata: 



Caminante, no hay camino

No começo de 2007, quando eu estava prestes a dar o fora da velha e sempre nova academia, não sabia no que ia dar aquele ato de aparentes insanidade e transgressão adolescente. Quase três anos depois, o que não é muito tempo, continuo sem saber que rumo minha vida tomar, em todos os aspectos. Não vejo essa indefinição constante como problemática, porque a maioria das pessoas da minha idade também está à deriva das possibilidades que se apresentam a nós, a todo momento. Tem gente viajando, tem gente estudando, tem ainda um pessoal trabalhando e outros se acabando numas baladas estranhas do centro da cidade... Poucos são os que sabem o que farão daqui a, digamos, cinco anos, e mesmo esses, tenho certeza, se surpreenderão ainda com muito que a vida lhes reserva, inclusive nesse curto período dos vinte e poucos. Se estamos preparados ou não para tudo isso aí que está por vir, isso não sei, mas gosto de ver como cada um reage às reviravoltas que acontecem tanto objetivamente quanto na mente de todos nós.



Admito que durante meus anos de escola fui, em boa parte, do tipo monotemático, um tanto quanto menos crítico e cético do que me tornaria depois de morar fora do Brasil, de fazer um ano pesaroso de USP e de reformular tudo o que pensava sobre minhas próprias pretenções intelectuais, profissionais, e por aí vai. Posso reparar, portanto, em como minha vida universitária é diferente daquilo que eu pensava, no colegial, que ela iria ser. Se a clareza de me perceber mudando é uma peculiaridade, a mudança em si é algo tão comum nas pessoas, principalmente da minha idade, que chego a pensar que ela está intimamente ligada com a incerteza que caracteriza todos nós. Até agora, minha vida está cheia de começos e recomeços. Será que estou pronto para as definições que se arrastam?

Como não lembrar das palavras daquele espanhol, Antonio Machado: 


Caminante no hay camino
Se hace camino al andar
Que pena que não conheço mais sobre ele, foi até citado pelo próprio Saramago no seu caderno. Nossa, esse foi um post bastante autobiográfico! O bom de um blog pouco visitado como o meu é isso: me preocupo menos em ter pudores, e sei que pessoas queridas lerão meu texto e, espero, serão tocadas por ele.

Antes de começar

Antes de escrever aqui normalmente, vou retomar alguns textos do blog velho. Vou repostar apenas os que eu mais gosto - são muito poucos. Assim, serão notícias e reflexões velhas que serão lançadas aí em cima, mas só por um momento.

Espero logo voltar ao normal nesse mundo cybernético!

domingo, 7 de março de 2010

De mudança

Cansei da plataforma antiga do meu blog. O myopera.com até que tinha suas vantagens, sendo a maior delas o fato de o nome dele combinar com o nome da minha página. Afinal de contas, é certo que A vida é uma ópera nasceu resgatando o velho tenor italiano, mas só veio à mente graças ao site que o hospedava. Calhou de o nome ser bom, e a referência, agradável. Fica, portanto, mantido no blogger.com, perdendo um pouco do nexo, mas ganhando em praticidade.

Acontece que a plataforma velha tinha algumas falhas que me irritavam, como os bugs nos comentários (os nomes de quem comentavam muitas vezes eram suprimidos), as tags que não funcionavam direito e o ambiente geek demais para mim, pouco conhecedor da informática avançada. Mudei para a hospedagem mais conhecida da internet porque sei que não encontrarei por aqui esse tipo de empecilho (que só incomodava a mim, uma vez que os três ou quatro leitores do meu blog dificilmente percebiam tais incômodos).

Imagino que esse blog também deva ser facilmente manuseável como o outro, e não penso que encontrarei problemas em atualizá-lo. O layout vai mudar, a freqüência de postagens vai se tornar mais constante, e o conteúdo - espero - agradará.

Agora, à escrita!