"(...) Para quem quase nunca tinha viajado para o exterior, seus conhecimentos de Paris à época eram bastante avançados. Flanava pelo Quartier Latin como outrora subia e descia os morros de Perdizes e inspirava os ares da França como um tuberculoso à procura da cura. Conforme os anos passaram e ele se tornava íntimo da cidade, algo mais ocorria ao caminhar pelas ruas daquele lugar: ele sentia como se a própria Paris lhe indicasse os caminhos que percorria na noite e na vida, e em cada esquina ele tinha uma história para contar aos descentes, quando eles visitassem Paris. Quando voltou, passou a repetir essas histórias para seus convivas, aumentando a antipatia com que ele envolvia sua própria figura. Nunca terminava um drink sem contar para alguém da vez em que se perdera, na madrugada, pelo 3e arrondissement ou de quando participou da coletiva com tal membro da Légion d'Honneur.
No Brasil, ele
até tentou estabelecer uma versão tropical de sua vida parisiense. Tentou
arranjar uma padaria que no mínimo emulasse sua boulangerie cotidiana, mas não
conseguiu se satisfazer. Igualmente, não
encontrou em toda a cidade uma única praça que lhe agradasse e fizesse as vezes
do Bois de Bologne. Acima de tudo, tentou mais de uma vez, mas o Obelisco do
Ibirapuera jamais chegaria aos pés da magnânima Torre Eiffel. Como conseqüência,
sua vida cultural esmoreceu, as leituras rarearam e o jornal, que desde antes
pouco lhe pagava, menos ainda passou a dar ao nosso homem.
O resultado
disso já era esperado: o sujeito ensimesmou-se e se tornou ainda mais do que um chato: virou um ranzinza. (...)"
Trecho de um rascunho a ser publicado quando o texto - e eu mesmo - estiver pronto.
As coisas se constroem lentamente, tanto na vida quanto na literatura.
pensei estar lendo um escritor famoso!
ResponderExcluirE talvez você estivesse... :-)
ExcluirJá to esperando o restante deste "trecho"!
ResponderExcluirVai ter que esperar, Felipe... Mas sairá, isso já está certo na minha cabeça!
Excluirpensei estar lendo um escritor famoso! [2]
ResponderExcluirLuis, fiquei impressionado com sua capacidade como escritor! O que está fazendo na medicina? Abraços
Isso lá é coisa que se pergunte às portas do quarto ano?
ExcluirEnfim, uma coisa não exclui a outra, e acho que seria muito feliz se conseguisse conciliar as duas.
Luis, não teve como não comentar, meus sinceros parabéns.
ResponderExcluirEspero um dia poder me expressar tão bem quanto você.