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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Uma velha história...



Comecei 2012 num ótimo espetáculo: R&J de Shakespeare - Juventude Interrompida. Trata-se de uma releitura do velho Romeu e Julieta ambientada numa escola tradicional inglesa, durante uma tarde de estudo de quatro jovens. Só é possível se situar nesse pano de fundo por detalhes sutis de enredo e de cenografia que dão conta de construir à frente do público um ambiente escolar sério, rígido, uma escola para rapazes engravatados e imaginativos. Aos pouco, conforme os personagens perfazem sua rotina estudantil, vemos que os quatro rompem a chatice dos dias escolares com uma encenação daquela que é uma das histórias mais conhecidas do teatro ocidental.

A história arquiteta-se sem diferenciar bem o que é Shakespeare do que são os escolares encenando, e aí reside a primeira beleza da peça. Nas incertezas da narração, o drama renascentista surge exigindo a imaginação do espectador e a versatilidade dos quatro ótimos atores em cena. Como caixas chinesas, de dentro da escola vem Romeu e Julieta e, de dentro de Romeu e Julieta, tecem-se as relações pessoais entre os meninos. É assim que os personagens múltiplos do começo ganham cada um sua personalidade, construída dificilmente pelos percalços shakespearianos.

O amor de Julieta por Romeu, o beijo dos dois rapazes e seu relacionamento com as famílias rivais não pretendem contar para quem assiste à peça essa mesma história velhíssima. O que está em jogo no palco são as tensões entre aquele grupo de amigos, o amor que sentem uns pelos outros e um erotismo enclausurado por baixo das gravatas vermelhas. 

Se fosse só isso, a peça já seria fenomenal. Entretanto, soma-se mais um plano de entendimento ao espetáculo: o enredo vai além do esquema "história dentro de outra história" e funde os dois pólos em uma única encenação bivalente, de modo que, com o fim da peça, não se sabe mais se o ator representa um estudante ou o velho Romeu apaixonado. É um novo personagem aquele que morre ao lado da Julieta, e nesse clímax inesperado reside a segunda beleza de um dos melhores espetáculos a que eu assisti nos últimos anos.

A terceira beleza fala por si mesma: http://joaogabrielvasconcellosbrasil.blogspot.com/ (o mesmo daquele filme Do começo ao fim, lembram? Escrevi sobre esse filme aqui: http://www.lflauletta.blogspot.com/2010/05/para-quem-vida-e-facil.html)

O roteiro, genial, é de Joe Calarco e a direção de João Fonseca. A peça é encenada no Rio, mas fica em cartaz no SESC Belenzinho (que merece uma visita mesmo que você não consiga lugar na peça) até o dia 26/02.

5 comentários:

  1. Realmente é um espetáculo maravilhoso. Sua descrição dele também! rs

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    1. E a companhia foi agradável também. O passeio valeu a pena!

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    2. Sim, o passeio valeu muito a pena e a companhia foi muito boa. As discussões posteriores das intenções e teorias da peça também foram muito boas rs

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  2. Luis, infelizmente não tenho a honra de morar numa cidade onde se possa assistir peças de teatro, o que é uma pena, porque acho magnífico.
    Com a sua descrição fiquei com muita vontade de assisti-la. E depois de conferir a terceira beleza do espetáculo então...

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    1. Vale a pena mesmo, e admito que a terceira beleza, por vezes, saltava mais à vista do que as outras...

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