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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Um tipo de fascinação

Não é de hoje meu fascínio por lugares estrangeiros. Desde pequeno pego-me imaginando minha vida em outras cidades, outros costumes, como um cidadão do mundo precoce que, mesmo sem raramente sair de sua cidade natal, sentia-se capaz de viver com desenvoltura fora de seu mundo conhecido. A primeira experiência desse tipo aconteuceu quando tinha apenas dezesseis anos e fui fazer um ano de intercâmbio na Alemanha. Essa experiência única reverbera em mim até hoje, passados seis anos da minha viagem de ida.

Dentro da miríade de assuntos que aquele ano europeu pode suscitar, quero falar de um que me passou despercebido por muito tempo, mas que agora está evidente. Trata-se da fascinação por duas cidades quase míticas para mim, uma que eu conheci e outra que ainda não.

A primeira delas é Londres. Muitos anos antes de ir para a Alemanha, tinha, dentro do meu armário, um mapa da área central da capital inglesa. O manuseio constante daquele papel fez com que ele se desfizesse em alguns pedaços gastos e percorridos com os olhos. Era uma época anterior ao Google Maps ou ao Google Earth, e o exame daquele mapa era o mais próximo de Londres a que eu podia chegar naquela adolescência nascente. De tal modo me interessava pelo lugar que, em 2004, quando tive a oportunidade de visitá-lo durante uma semana, senti-me como um emperdenido englishman, munido de guarda-chuva preto e moletom vermelho.

Foi uma belíssima viagem inserida no meio da grande viagem germânica que eu fazia. Mas o fato é que - eis o motivo deste texto - a fascinação por Londres passou, como se eu já tivesse vivido tudo o que poderia vive lá. Obviamente não o vivi, e uma única vida humana seria pouca para conhecer tudo de Londres, mas não sinto mais aquela vontade premente de passear pelo Tâmisa ou pelo Regent's Park.



No lugar da velha capital britânica, agora é Nova York que me atrai profundamente. Tudo bem que cresci e não analiso os mapas com a mesma ânsia viajante da criança do século passado, mas ainda existe em mim aquele mesma inquietação de outrora, fonte de sonhos e esperanças. Sempre admiti a todos os meus brios de cabeça-de-vento, do tipo que não tem os pés no chão e nunca está onde realmente está. Se estou fazendo faculdade no interior, se mal tenho dinheiro para ir no cinema, fico pensando - ai de mim - nos espetáulos off-Broadway e na First Aveue, esquina com a E 42 Street (sabem o que fica lá?).

De tudo isso, ficam algumas coisas, como de tudo. Primeiro, a constatação de que as pessoas sempre querem aquilo que não têm e via de regra desprezam tudo o que já tiveram. E a resignação de saber que, nesses passos curtos, vai demorar para eu conhecer todos os lugares que tenho vontade.

Um comentário:

  1. "Primeiro, a constatação de que as pessoas sempre querem aquilo que não têm e via de regra desprezam tudo o que já tiveram"

    Lulu, você diz tudo. Sabe, vou te confessar uma coisa, e talvez você me ache (mais) estranha depois disso. Eu não tenho a MÍNIMA vontade conhecer Manhattan
    Pretendo conhecer porque é importante, agora, teesão mesmo, não.
    Claro que tem MUITO em Nova York que eu quero conhecer - o Brooklyn, off Broadway, Queens, Harlem, as "little" (tipo "little italy")- cidade cosmopolita sempre me atrai.
    Agora essa coisa de arranha-céus, mega lojas e essas coisas gigantes pra turista ver eu tô começando a achar que são meio iguais em toda megalópole. Ou melhor - uma é cópia da outra. Talvez fosse legal pra ver o original.
    Bom, tem lugar demais no mundo pra conhecer.
    ps- ouvi dizer que o metrô de Nova York, como antigo que é, é um nojinho.

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